A primeira vez que subi a um palco internacional para receber um prémio está gravada na minha memória: as luzes, focos gigantes no palco que me cegavam, e o som de 10 mil pessoas a bater palmas.
No backstage, à espera que a cerimónia começasse, fui à procura de um sítio para fumar. Nessa noite tinha dormido muito pouco. A sessão de entrega de prémios começava às seis da manhã e eu tinha-me deitado tarde, já de madrugada. Encontrei um sítio onde já estava um homem a fumar e juntei-me a ele. Ele era americano e meteu conversa comigo, começou a fazer perguntas sobre a RE/MAX e sobre o prémio que eu ia ganhar. Disse-lhe, com orgulho, que ia receber o prémio de número um do mundo em venda de franquias.
Eu estava todo inchado. Era 2001 e eu estava ali, em Las Vegas, no meio de uma produção tipo Óscares na Grande Arena MGM. Tudo aquilo parecia surreal para um miúdo que vinha do nosso Portugal pequenino.
Continuámos a conversa, e ele a certa altura disse que estava contente porque tinha comprado um carro novo na semana anterior, a pronto pagamento. É preciso dizer que ele tinha um ar… modesto. Estava de fato, também ia receber um prémio, mas parecia um empregado de mesa. Quando ele referiu que naquele ano tinha comprado um barco com 40 pés, fez-se silêncio.
Resolvi perguntar-lhe que prémio é que ele ia receber, para descobrir que ele era o vendedor número um do mundo, o número um na venda de imóveis a título individual, sem equipa: tinha vendido qualquer coisa como 5 milhões de dólares.
Desinchei um bocadinho naquele momento. Ele tinha facturado 50 vezes mais do que eu num ano e estava ali como se nada fosse.
E ali estava eu, pronto para entrar no palco, a ouvir o VinnieTracey a anunciar os números da expansão em Portugal e a dizer «estas são as pessoas que permitem que a empresa cresça a nível mundial» e a chamar pelo meu nome. Thank you very much, diz Vinnie. Palmas, luzes, emoção, gratidão. Eram seis da manhã e eu já tinha olhado o mundo do topo da montanha, já tinha vindo por ali abaixo e tinha voltado a subir, até às estrelas.
Nos anos que se passaram desde então houve outros palcos, mas nunca esqueci a conversa com aquele americano à volta de um cigarro. Ele fez-me sentir pequenino outra vez e ganhar nova consciência do que ainda tinha para crescer.
Depois daquela viagem, comecei a apreciar mais as pessoas que têm essa qualidade. Comecei a dar valor e a aprender a ser mais assim, a ser mais como aquele americano, a ser mais como o Miguel Oliveira, o piloto que nos faz sonhar com a vitória no Moto GrandPrix, a falar sobre o sucesso como mais uma etapa no caminho.
ZigZiglar disse «a humildade abre mais portas do que a arrogância». Como broker, o pior erro que eu vejo é quando um agente pára de crescer por arrogância. Aparece um agente novo, muitas vezes alguém que vem do zero, e nós damos-lhe uma oportunidade, damos-lhe formação, acreditamos nele, e quando ele factura 50 mil euros, torna-se arrogante, um carapau de corrida que acha que já sabe tudo. E é assim que alguém que podia chegar aos 500 mil euros pára no primeiro patamar, porque já não tem espaço para aprender mais.
Como é que eu me torno mais humilde? Não tenho que me encolher, não tenho que ficar mais pequenino – tenho que criar objectivos maiores.
Eu comecei a andar de moto aos 40 anos, a fazer motocross, e tive que aprender tudo, começar do zero. O projecto de expansão no Brasil, que tem um mercado imobiliário com uma dimensão impensável em Portugal, obrigou-me a pedir ajuda, a reaprender o que eu achava que já sabia.
Quando somos crianças, os adultos perguntam-nos o que queremos ser quando formos grandes, e nós aprendemos a ter uma resposta na ponta da língua. Mas a partir de certa altura deixam de nos fazer essa pergunta – e nós deixamos de pensar numa resposta. Se quando chegamos a adultos achamos que já sabemos tudo e não continuamos a querer ser grandes, começamos a morrer.
Quando temos um desafio grande tornamo-nos pequenos, ter uma meta maior torna-nos humildes. Por isso, encontra um desafio à tua altura, que te faça crescer, e aprecia o momento em que tens que aprender, que pedir ajuda, que ser pequeno, outra vez – isso vai tornar-te mais humilde e mais feliz.