Mais uma viagem de carro. Desta vez ia com um consultor da Latina com quem eu trabalho há muitos anos. Íamos a conversar quando ele se virou para mim e perguntou «Posso dizer uma coisa que não é muito simpática?».
Naquele momento dei-lhe a minha atenção: quando alguém se chega à frente para dizer qualquer coisa difícil, eu oiço.
Ele disse «Eu adoro estar no Grupo Latina, mas há uma coisa que me incomoda. Quando nos juntamos, nas festas, depois de jantar, há sempre gente a beber demasiado, há sempre alguém que fica bêbado».
Na RE/MAX Latina sempre houve a tradição de festejar em grande – e eu achava que isso era uma coisa boa. Não estava à espera de ouvir aquilo, sobretudo dele: um homem terra a terra, pragmático, que trabalha no terreno, que está habituado à loucura que é ser agente imobiliário.
A reacção natural a uma crítica é ficar à defesa. Noutra altura da minha vida talvez eu tivesse descartado este feedback ou talvez tivesse achado que era um exagero. Mas quando ouvi aquelas palavras, consegui ver as nossas festas de outra maneira, pelos olhos dele, e reconhecer a diferença entre a celebração e o excesso.
Naquele dia prometi-lhe que ele nunca mais me ia ver com os copos numa festa da Latina – comprometi-me a dar o exemplo. Eu sei que sei celebrar a sério sem precisar de beber, mas estava em piloto automático e só me apercebi disso naquele dia. Foi um momento importante de crescimento para mim que não teria acontecido se este colega não se tivesse disponibilizado a falar do que o incomodava.
Foram precisos muitos anos para eu aprender que quando alguém me dá na cabeça é normalmente para o meu bem.
É que fazer uma crítica construtiva dá trabalho. Na história Elogio ao Elogio eu disse que que era mais fácil criticar que elogiar, mas há críticas que nos saem do pêlo. É desconfortável, sobretudo quando não sabemos como a outra pessoa vai reagir. Há pessoas que ficam à defesa, há pessoas que ficam ofendidas e há quem aproveite a deixa para despejar o saco das críticas para o nosso lado. Há casos em que o mais fácil é ficar calado.
Mas se nos calamos não estamos a servir quem nos rodeia. A palavra certa no momento certo pode fazer uma grande diferença na vida de uma pessoa. E se isso é importante a nível pessoal, com os nossos companheiros, filhos, amigos, a nível profissional pode ser o que separa um agente imobiliário medíocre de um top producer. Para isso é preciso alguém que diga o que é preciso dizer e alguém que oiça e assimile o que é dito.
A próxima vez que alguém te disser uma coisa menos simpática, a próxima vez que alguém te fizer uma crítica construtiva, não fujas, não te justifiques, ouve apenas. Depois terás tempo para avaliar se o feedback é útil para ti nesse momento da tua vida. Em vez de reagires, respira fundo, agradece e presta atenção: tens à tua frente uma pessoa que quer que tu sejas melhor.