Elogio ao elogio

Elogio ao elogio
“Podemos dar feedback de muitas maneiras, mas vamos ter melhores resultados se investirmos o nosso tempo a reconhecer e a encorajar o valor das pessoas.”

Imaginemos esta cena: um consultor vem ter comigo e mostra-me, com orgulho, a sua primeira brochura. Mal pego no papel, vejo logo duas ou três coisas que não estão bem: o logótipo tem o tamanho errado, o tipo de letra não é consistente, o que seja. Não importa.

Ele está à espera da minha reacção, e o que é que eu lhe digo? Que a letra está mal? Não. Digo que está fantástico. Digo que a foto dele ficou muito bem, que o resultado ficou muito chamativo. Elogio o que houver para elogiar ‒ e há sempre qualquer coisa para elogiar.

A brochura pode não estar perfeita, mas se começar por analisar o que está mal, em vez de apreciar o que está bem, vou arruinar o entusiasmo daquele consultor. Errar faz parte da vida. Há tempo, mais tarde, para corrigir o que for preciso. Prefiro mil vezes reconhecer o esforço sincero e com isso criar uma relação de apreço mútuo onde vão florescer pessoas motivadas e apaixonadas pelo que fazem.

Tento fazer isto com os meus filhos. Esforço-me por perceber como posso ajudá-los a brilhar sem lhes minar a autoconfiança. É um desafio. Quem tem filhos sabe bem do que estou a falar ‒ eles fazem tantas asneiras! Quantas vezes nos sai um «isso não se faz assim» ou um «para a próxima fazes melhor»?

É muito mais fácil criticar que elogiar. Basta pensar nos nossos pais, nos nossos professores, nas gerações em que as crianças existiam para ser disciplinadas e não motivadas. Se um filho é bom a matemática e médio a português, vou pô-lo numa explicação de português, para ele melhorar, ou de matemática, para ele se superar? A nossa tendência natural é corrigir as lacunas, mas podemos ir mais longe se apostarmos naquilo em que já somos bons, nas coisas em que podemos vir a ser (os) melhores.

A primeira vez que vi alguém a elogiar deliberadamente foi numa reunião em que a pessoa que me acompanhava passou o tempo todo a felicitar o trabalho dos nossos interlocutores, e com isso conseguiu criar um ambiente super favorável para o trabalho que tínhamos que fazer. Na altura, com os meus 26 anos, a minha escola de negociação era à cacetada, era assim que eu tinha aprendido, e aquela reunião mostrou-me que era possível criar uma relação e com isso negociar melhor.

Podemos dar feedback de muitas maneiras, mas vamos ter melhores resultados se investirmos o nosso tempo a reconhecer e a encorajar o valor das pessoas. Como? Estamos atentos às coisas boas, aplaudimo-las e se queremos ir mais além, tornamos o elogio público, na equipa, nas redes sociais, ou pedimos à pessoa que partilhe com os outros o que faz de bem.

Ser reconhecido é uma necessidade humana que, uma vez satisfeita, é uma fonte renovável de motivação e de autoconfiança. Elogiar o que é elogiável, de uma forma genuína, faz com que o outro se sinta valorizado e é meio caminho andado para criar bom ambiente numa equipa.