Tive o privilégio de partilhar as minhas histórias ao vivo com o Cristiano Almeida, que há dias me desafiou para um live emocionante no seu instagram. Falámos de medos e de desafios, de conquistas e de valores.
A certa altura o Cristiano disse «podíamos não estar cá hoje»: falava da crise que em 2011 chegou a Portugal e que abalou a estrutura do mercado imobiliário. Perguntou-me como é que conseguimos superar o embate e nos transformámos no Grupo Latina de hoje – com 12 lojas e 800 agentes em Portugal.
Acredito que as Crises têm o poder de nos transformar e, quando abanam a estrutura, de nos tornar mais fortes.
No início da crise, nos Estados Unidos, com a falência dos Lehman Brothers, não imaginava as suas consequências. E quando chegou a Londres, e depois a Portugal, estava convencido que éramos capazes de lhe fazer frente.
Quando penso numa onda que se aproxima, eu preparo-me para surfar, não penso que vou ser enrolado. Assim, quando elas vêm, eu não me assusto. Talvez por isso eu não tenha visto a dimensão da onda que estava a chegar.
Em Portugal bateu forte, muito forte. Desapareceram 3 bancos. O banco que era a maior referência no país, o Banco Espírito Santo, faliu, com a história que se conhece. Deixámos para trás o tempo em que o meu avô me dizia para depois do curso ir trabalhar para um banco, para ter estabilidade. Foi um tsunami financeiro na imobiliária, na construção, em Portugal e no mundo inteiro.
Mas em 2011, mesmo com a economia do país a desmoronar-se à minha volta, o desafio que me esperava era outro.
A Maria João ficou grávida e descobrimos que era uma menina, um sonho na família. A gravidez teve problemas desde muito cedo. A Maria João teve que ficar em casa, em repouso total, durante quatro meses, e depois esteve internada na Maternidade Alfredo da Costa, mais um mês e meio.
Por várias vezes, os médicos prepararam-nos para o pior. Diziam que se a Maria nascesse seria um milagre. Mostraram-me a unidade de cuidados intensivos onde eu, pai de quatro filhos, nunca tinha entrado. Mostraram-me um bebé prematuro, do tamanho de uma mão e foi nesse momento que tive consciência do que nos esperava.
Foram dias difíceis em casa e na maternidade, e à nossa volta o mundo continuava a desabar – as vendas caíam a pique e a economia colapsava. Com o mundo em modo desafio, eu decidi não surfar essa onda.
A Maria nasceu e foram meses de luta. Fiquei em casa, ao lado dos miúdos, da Maria João e da Maria. Essa foi a onda que eu escolhi surfar. Peguei na prancha e fiz o que era preciso fazer: os nossos quatro rapazes tinham escola, actividades, trabalhos para casa, era preciso ir às consultas, ir buscar os miúdos, passar no escritório.
Acho que foi a primeira vez na vida que eu dobrei os joelhos. Normalmente levanto a guarda e não me deixo abater, mas dessa vez fui-me abaixo.
Mas não caí. Eu sabia que quando pudesse pegar outra vez na prancha, iríamos reconstruir a RE/MAX Latina. O Grupo sobreviveu à conta de uma equipa fantástica, que não desistiu e foi à luta – a Albertina, o João Pedro, tantos – toda uma família que segurou o barco.
Estamos vivos enquanto empresa graças à forma unida como lidámos com uma adversidade terrível e conseguimos ultrapassá-la, com grande sacrifício pessoal, mas sem deixar de pagar um salário, uma renda, de cumprir com todos os compromissos.
Estamos vivos porque não desistimos. Na altura éramos a maior operação imobiliária na europa, e hoje, dez anos depois, temos vinte vezes mais pessoas, mais negócios, mais transacções.
E numa família de homens, com três irmãos e quatro filhos, a Maria foi uma dádiva – veio perfumar a nossa casa e, com o seu jeito de menina, torná-la mais forte.