Eu sou o Pedro. Eu sou.
O verbo ser, em português, expressa a nossa essência. Em inglês posso dizer I am Pedro, mas também I am sick, I am happy ou I am here. To be é ser, é sentir-me, é estar, é uma plenitude de formas. Esta abrangência é impensável em português: imagina não conseguir diferenciar Eu estou feliz de Eu sou feliz.
Posso dizer «hoje estou triste», e ser uma pessoa alegre. Posso dizer uma mentira, e ser verdadeiro. Se eu sou – e sei que sou – uma pessoa persistente e determinada, posso estar um dia sem vontade, preguiçoso, mas sei que não é aquilo que eu sou.
Não me esqueço da minha essência por um dia mau – sei que uma andorinha não faz a primavera. E sei que posso regressar a casa, à minha essência e que isso me ajuda a fazer o meu caminho. Pode correr mal a semana, o mês, o ano, pode vir a Covid, mas eu sou um profissional, eu tenho o meu propósito.
Eu sou, quando tenho claro para mim quem eu sou. Eu sou um profissional da imobiliária, eu sou pai, eu sou uma pessoa íntegra. Essa é a minha essência. Eu sei quem sou, eu sei o que quero.
Podemos dizer «eu tenho uma empresa, eu tenho cinco filhos, eu tenho uma casa», mas nós não temos nada. Tudo o que «temos» é transitório, e ninguém é propriedade de ninguém.
Eu não tenho cinco filhos, eu sou pai. Ser pai é a minha essência e saber isso ajuda-me nos momentos difíceis, quando eles se portam mal, quando já não tenho paciência. A minha essência não é uma coisa transitória, não é uma coisa temporal.
Saber quem eu sou, qual é a minha essência, é indispensável para saber o que quero, que tipo de dias quero ter na minha vida, que tipo de rendimento, que tipo de relação quero ter. O Ser tem um enorme impacto no Ter.
Eu posso escolher quem Sou, independentemente do lugar onde nasci, de quem são os meus pais, das circunstâncias da minha vida. Nós somos o que fazemos repetidamente. Nós somos o que pensamos todos os dias. Nós somos o que dizemos todos os dias.
A forma como falamos de nós próprios, e as histórias que vamos criando sobre quem somos, influenciam os nossos padrões. Se nos focamos no que temos, ficamos absorvidos no transitório e não temos consistência, não temos raízes.
E o que acontece quando dizemos coisas erradas sobre quem somos? Quando repetimos «Eu sou assim» porque alguém, um dia, disse «Tu és assim» e nós assumimos isso como uma verdade universal e imutável. Quando dizemos «Eu sou assim» e isso só atrapalha, porque nos leva para mais longe de quem queremos ser.
Se não prestarmos atenção, podemos estar a escolher quem somos sem dar por isso.
No livro Conversas com Deus, quando Neale Donald Walsch pergunta «Porque é que estamos aqui?», a resposta é: «Para te lembrares e re-criares Quem Tu És. Usas a vida para criar o teu Eu-tal-como-é e Quem-sempre-quiseste-ser».
Então quem sou eu? Eu sou, sou uma escolha minha, a mais importante da minha vida.