Este ano fiz 50 anos e tive o privilégio de juntar no mesmo sítio muitas das pessoas que me acompanham nesta jornada. Depois de meses de restrições por causa da pandemia de Covid-19, senti-me grato por poder estar perto daquela gente, cara a cara, e este sentimento acompanhou-me durante todo o jantar.
Estar grato pelo que tenho – ser grato – é dizer ao mundo que estou feliz, que estou contente com aquilo que a vida me traz. A gratidão é um património enorme. Quando reconheço o contributo dos outros na minha vida, esse sentimento é meu – estou grato à minha mãe, ao meu pai, aos meus irmãos, aos meus clientes, aos meus colegas, mas a gratidão fica comigo, e vai-se acumulando.
Tenho um colega que de cada vez que está comigo me diz, como se fosse pela primeira vez: «Obrigado Pedro, tu mudaste a minha vida!». Este colega é o João Cardoso e a gratidão é umas das suas qualidades mais fortes.
Se alguém me diz «Obrigado Pedro», eu gosto de ouvir e tenho vontade de dar de volta, sinto-me reconhecido, sinto-me bem com o que dei, e vou querer dar mais. Quando agradeces aos teus clientes, eles vão sentir o mesmo.
Quando te sentes grato pelas coisas boas que te acontecem, a vida dá-te mais coisas boas.
E não falo de técnica, não basta dizer «obrigado», não são as palavras que importam. O que importa é estares grato ao teu cliente por ele ter posto a casa dele nas tuas mãos, sentires-te grato pelo privilégio de acompanhar aquele cliente e a sua família. O que importa é estares grato ao teu colega pelo seu tempo, pelo seu trabalho, por confiar em ti.
Este sentimento vem naturalmente para algumas pessoas, como o João Cardoso, mas para outras, como eu, precisa de ser trabalhado, relembrado. Não é que eu seja um ingrato, mas tive de aprender a prestar atenção e a reconhecer o sentimento de gratidão dentro de mim, e a não o desvalorizar. Hoje tenho consciência da importância da gratidão na minha vida e nos meus resultados.
O oposto disso – a ingratidão – é alimentar a ideia de que a vida me deve alguma coisa. É como achar que a minha mulher, ou o meu patrão, tem a obrigação de fazer isto ou aquilo, não porque foi acordado entre nós, mas porque criei essa ideia na minha cabeça, criei essa expectativa – e fico zangado quando isso não acontece.
Se alguém acredita que a vida lhe deve alguma coisa, muitas vezes está de mão estendida à espera que as coisas aconteçam de determinada forma, que as pessoas se comportem de certa maneira. E quando isso não acontece cria-se um sentimento de revolta, de injustiça, e gera-se um estado negativo, a pessoa fica azeda, chata. Ora, ninguém quer estar com uma pessoa assim, é uma forma de estar que não gera empatia – e que afasta os resultados e as boas experiências.
Viver na ingratidão é não reconhecer, não agradecer quando as pessoas nos dão alguma coisa, só porque achamos que elas não fazem mais do que a sua obrigação.
Se eu sou o melhor vendedor de Lisboa, mas acho que os clientes me dão uma casa para vender porque é a obrigação deles, porque eu sou a melhor escolha, e não tenho este sentimento de agradecimento, eles podem fazer negócio comigo uma vez, mas o mais provável é que na próxima oportunidade procurem outra pessoa. A ingratidão não ajuda a criar clientes satisfeitos que voltam uma e outra vez, não é um fertilizante que faz com que a terra produza mais.
Mas se eu for uma pessoa grata às coisas que acontecem, se estou contente e se agradeço às pessoas que me proporcionam isso, essas pessoas vão dar-me mais. E se isso não acontece, eu não fico à espera, esforço-me para que aconteça, vou trabalhar mais. Assim, quando tenho resultados, o sentimento é sempre bom e tende a gerar mais sentimentos desses.
Se te sentires grato e se te mostrares grato às pessoas com quem trabalhas, elas vão querer trabalhar contigo mais vezes. Se agradeces o tempo de um colega que vai mostrar o teu imóvel e se ele se sente reconhecido, ele vai querer voltar a mostrar os teus imóveis.
O sentimento de gratidão é mágico. Quando dizes a alguém «se não fosses tu, isto não teria acontecido» sentes-te imensamente grato – que é uma sensação espetacular e poderosa – e estás a contribuir para que o outro sinta o mesmo.
A gratidão perfuma a vida e as pessoas à nossa volta, e quem sente esse perfume tende a dar de volta, a gerar mais experiências e mais resultados alinhados com aquilo que queremos.