O cetro invisível

O cetro invisível
“Nas relações humanas há sempre alguém que tem o cetro na mão. Se a relação é equilibrada, o cetro passa de mão em mão consoante o que for mais vantajoso para todos num dado momento.”

Há uma ideia de que os millennials – os miúdos da geração que nasceu com a internet – não respeitam a autoridade. O mesmo foi dito da geração X e provavelmente vai ser dito da geração Z. Como pai de cinco filhos, este é um tema recorrente nas conversas em família.

Este Verão fomos aos Açores e estivemos com outra família que também tem cinco filhos e o tema surgiu – os miúdos portam-se mal e às vezes é preciso lembrá-los que têm que respeitar a autoridade e a aceitar as regras.

Nesse dia usei um exemplo que eles conhecem: quando vamos jantar a casa de alguém, quando somos convidados, seguimos as regras da casa – aparecemos à hora marcada, comemos o que nos servem, elogiamos, agradecemos. É como se o dono da casa tivesse na mão um cetro invisível que simboliza o poder para reinar na sua propriedade.

Ao longo da nossa vida cruzamo-nos  com muitas pessoas que levam na mão esse cetro invisível – os professores, o chefe, o médico que nos atende, o polícia que nos passa uma multa.

A relação que temos com as figuras de autoridade vai ser determinante para a forma como vivemos a nossa vida, porque vai influenciar a dinâmica das nossas relações. Nas relações humanas há sempre alguém que tem o cetro na mão. Se a relação é equilibrada, o cetro passa de mão em mão consoante o que for mais vantajoso para todos num dado momento. Os casais passam o cetro um ao outro para cuidar dos filhos, para tratar dos impostos ou para arranjar a torneira da cozinha.

Daí ser super importante perceber que nas relações humanas, o poder para liderar é o poder para servir. O princípio de Peter Parker (o alter-ego do Homem-Aranha) diz que «um grande poder implica uma grande responsabilidade». Eu acredito que ser uma figura de autoridade não significa ser servido pelos outros – a magia do cetro invisível é poder servir os outros.

Quando uma mãe tem o cetro na mão, ela está a cuidar das crianças, a cuidar da família.

Quando o anfitrião que nos recebe tem o cetro na mão, ele passa a noite no grelhador, pergunta se estamos bem, se queremos mais vinho.

O rei que é amado é aquele que serve o povo, não é aquele que é servido pelo povo. Quando ganhamos consciência disto torna-se mais fácil respeitar e apreciar esse papel. Se nunca aprendemos isto, temos guerras com os professores, com a polícia e mais tarde com o chefe no trabalho e nas relações.

No mundo da vendas, na relação com um cliente também é importante compreender o jogo de servir e ser servido, perceber que o cetro pode estar do outro lado – quando vamos a casa de um cliente e somos recebidos, respeitamos o seu espaço, sabemos estar calados e ouvir as histórias dele; ou podemos ter o poder do nosso lado – quando procuramos a melhor solução para o servir.