O outro lado da dor

O outro lado da dor
“No meio da adversidade podemos apreciar a beleza da compaixão, da solidariedade, da certeza de termos alguém em quem nos apoiar.”

Quando vi na televisão as filas de ambulâncias à espera de vez nos hospitais, apareceu-me uma imagem tão forte que fiz um vídeo para a partilhar com a equipa.

Ao ver as ambulâncias, imaginei as pessoas lá dentro, deitadas numa marquesa, a precisar de cuidados de saúde, de oxigénio. E essas pessoas não estavam sozinhas, havia sempre alguém a cuidar delas: um bombeiro, um paramédico, um médico.

Eu sei o aperto que é ter um familiar próximo doente, sei o que é quando nós próprios estamos doentes. Mas também conheço a magia, o carinho, o amor que é ter alguém que cuida de nós, que cuida de um ente querido.

A vida tem destes equilíbrios. Tanto tem o lado de alguém que está em sofrimento como tem o lado maravilhoso de alguém que está a sacrificar-se, a arriscar-se para cuidar de outro ser humano que nem sequer conhece.

Nós às vezes estamos na marquesa e às vezes estamos ao volante da ambulância.

Durante o ano que passou eu estive várias vezes deitado na marquesa, por estar ansioso, por pensar que tinha Covid-19 e por várias situações pessoais muito difíceis. E quando estamos na marquesa, em sofrimento, é bom ter alguém por perto que conduza a ambulância e que cuide de nós.

Pedir ajuda é um sinal de humildade. Se por um lado temos que nos expor, que abdicar do controlo e ser vulneráveis, por outro, pedir ajuda cria espaço para que os outros se aproximem de ti e participem na tua história. Pedir ajuda permite que o melhor dos outros, a empatia, o gosto de servir, venha à superfície.

Durante o ano que passou eu vi isso acontecer dentro do Grupo Latina vezes sem conta. Gente que conduziu a ambulância pelo seu exemplo, com resiliência, criatividade e inspiração. Gente que não deitou a toalha ao chão.

Esta atitude, para além de garantir a sobrevivência em tempos difíceis, é tremendamente inspiradora para aqueles que estão na marquesa, que estão com mais receio, com mais stress. Ver o colega a conseguir dar a volta ou a ter uma palavra de incentivo é uma luz ao fundo do túnel.

Estamos a viver um momento angustiante, que mete medo por nós e pelos nossos familiares. Muitos no Grupo Latina já passaram por este vírus, uns de forma mais ligeira, outros de forma mais severa. Mas no meio da adversidade podemos apreciar a beleza da compaixão, da solidariedade, da certeza de termos alguém em quem nos apoiar.

E se há um ano tínhamos este grande desafio e não havia solução, neste momento já há uma vacina, que já está a ser distribuída, e os espanhóis encontraram um antiviral super eficaz. Há esperança – de que amanhã vai ser melhor, de que vamos superar a dificuldade.

A esperança é uma chama que nos faz acreditar, que nos faz ter fé. Como eu sou uma pessoa de fé, acredito mesmo que algo de bom está para chegar, que este inverno vai passar, e que vamos ter primavera, verão, e logo logo vamos receber a vacina e poder abraçar-nos outra vez.