No meio das minhas férias deste Verão, no Algarve, tive uma experiência que me fez contemplar a vida. Estive em casa dos meus amigos Alexandre e Vera, que têm um negócio de framboesas, e que nos levaram a visitar as estufas. Ao percorrer as filas infindáveis de arbustos, o que mais me chamou a atenção foram as pessoas que ali trabalhavam. Perguntei-me quantas delas viviam no nível da sobrevivência, trabalhando dia-a-dia para alimentar a família, para pagar as contas básicas.
O nível da sobrevivência é o primeiro de três níveis, inspirados nas ideias de Zig Ziglar e de Jim Rohn, três formas de estar no trabalho, três formas de estar na vida. Neste primeiro nível, começamos por trocar tempo por dinheiro e estamos focados em metas imediatas, de subsistência.
No segundo nível sobra-nos algum tempo, alguns recursos, já não vivemos de ordenado em ordenado. No meu caso, quebrei essa barreira quando me libertei do salário e comecei a viver de comissões, de success fees, quando comecei a ser responsável por outros, a ter que cuidar de uma família. Neste nível podemos olhar um pouco mais longe, orientar os nossos recursos extra para ajudar as pessoas que estão à nossa volta e usar esta conjuntura favorável, interna e externa, em serviço dos outros.
No terceiro nível temos um propósito maior, seguimos um sonho. Neste nível multiplicamos a acção, cuidamos de um grupo, de uma comunidade, de um sector, de uma cidade. Neste nível contribuímos para algo maior. Senti-me a passar para este nível quando criei uma equipa, quando comecei a ajudar outros a mudar de nível, como broker da RE/MAX Latina. Os meus amigos Alexandre e Vera estão neste nível, quando investem, quando criam oportunidades para que outros possam trilhar o seu caminho.
Nem toda a gente chega ao terceiro nível. Para subir de nível é preciso querer e estar preparado para as oportunidades que surgem. A preparação passa por adquirir as competências necessárias para atingir os nossos objectivos e que provavelmente vão incluir a disciplina, o esforço, a resiliência ou mesmo a capacidade de esperar, de sacrificar uma satisfação imediata, em detrimento de uma satisfação futura, maior. Só quem está preparado é que consegue agarrar as oportunidades que aparecem, que muitas vezes estão camufladas de mais trabalho.
As pessoas ficam presas nos primeiros níveis por várias razões, sendo que muitas não têm a oportunidade de aprender, de estudar ou simplesmente nascem numa parte do planeta com menos condições. Para muitos a vida é assim, e assim fica, estão conformados, não se vêem como pessoas que podem seguir um sonho e contribuir com esse sonho, qualquer que ele seja, para que a sociedade evolua. Outros não querem pagar o preço, sentem que custa demais, e desistem.
Naquela visita às estufas, no meio das minhas férias, pensei quão diferente teria sido a minha vida se tivesse ficado satisfeito nos primeiros níveis, se tivesse sido um bocadinho menos teimoso ou, se em vez das horas passadas a trabalhar, tivesse escolhido sair do escritório e ir beber uma imperial ao café e ver o jogo do Sporting.
Sabendo que tenho as condições para isso, sempre me senti compelido a crescer, a evoluir, para poder criar oportunidades para que outros evoluam. Para mim, como para tantas outras pessoas, a motivação veio da vontade de ajudar quem me rodeia, foi algo que começou com a minha família, com os meus amigos, com os meus colegas, e que me possibilita, nesta fase da minha vida, ter o privilégio de tocar a vida de pessoas que nunca vou conhecer.