Sempre tive medo de andar de avião, mas quando o projecto do Brasil tomou forma, e com o meu objectivo do outro lado do Atlântico, não tive outro remédio que não fosse ultrapassar essa limitação.
Uma das formas que encontrei para racionalizar o meu medo foi começar a estudar o assunto. Passei a conhecer os modelos dos aviões, as estatísticas, a perceber o que está por trás quando se diz que o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo. Passei a estar sempre muito atento quando há conversas sobre o assunto e, talvez por isso, os meus sentidos tenham ficado em alerta, quando, num evento, o nosso colega de longa data Sebastián Sosa, Master Regional na RE/MAX Argentina, começou a falar de aviões.
Este colega, em conversa com um comandante, ficou a saber que os aviões voam sempre a 35 mil pés e que a prioridade número um de qualquer comandante é colocar o avião lá em cima, chegar o mais rapidamente possível a essa marca. A razão para esta pressa toda é simples: a essa altitude o ar é mais rarefeito e tem menos resistência. Ali, o avião consegue atingir maiores velocidades, consumindo muito menos combustível.
Quem já experimentou voar numa avioneta, a baixa altitude, sabe que o avião treme, abana todo, parece que se vai desmontar. A 35 mil pés, a menor resistência do ar traz menos turbulência, maior segurança e maior conforto para os passageiros. Para além disso, caso haja algum problema, alguma emergência, é mais fácil, lá de cima, encontrar uma solução ou um aeroporto alternativo.
Partilho esta história, não porque queira tranquilizar alguém que queira andar de avião, mas porque é a metáfora perfeita para a carreira de um vendedor de imóveis: no início de uma carreira na imobiliária, o objectivo número um de qualquer vendedor deve ser colocar-se o mais rapidamente possível nos 35 mil pés.
Na descolagem, por muito breve que seja, o risco de alguma coisa correr mal é maior do que durante o voo. É quando se acendem os avisos para colocarmos os cintos de segurança, não podemos levantar-nos, não são servidas bebidas, é quando toda a tripulação está focada em levar o avião lá para cima. Também é no arranque do negócio que é maior o risco de falhar, muitas vezes porque não se aplica a potência máxima, ou se começa demasiado cedo a reduzi-la, e aí a gravidade puxa o avião, puxa o negócio para o chão.
Eu acredito que no arranque temos que dar o nosso melhor, o máximo esforço, para chegar aos 35 mil pés. Lá em cima, há menos turbulência, há menos concorrência e, se houver um problema, é mais fácil de resolver. Um vendedor que factura 100 mil euros por ano tem um negócio muito mais seguro, mais confortável, mais eficaz, com menos custos, do que um vendedor com uma produção anual de 10 ou 20 mil euros. Se há uma crise, uma pandemia, um mês menos bom, tem tempo para corrigir a rota e levar o negócio a bom porto.
É no início da carreira, no início da empresa, que o piloto tem que pôr a potência máxima para o avião sair da pista, é no arranque de um projecto que temos que dar o nosso melhor, que trabalhar mais horas, pôr mais energia, para que, quando chegarmos aos 35 mil pés, possamos reduzir a potência e viajar em velocidade de cruzeiro.