Tempo para andar, tempo para correr

Tempo para andar, tempo para correr
“Se tivermos a humildade de ir sempre aprendendo, ficamos mais flexíveis e vamos acumulando competências, vamos ficando maiores.”

O mercado financeiro e a vida têm uma coisa em comum: o tempo.

A fórmula para calcular o juro composto de um investimento tem em conta o capital inicial, a taxa de juro e o tempo. Se eu investir uma certa quantidade de dinheiro durante um ano, no final do ano vou receber o juro respetivo. Se no ano seguinte pegar no capital inicial, mais o valor do juro, e aplicar tudo durante mais um ano, e se voltar a fazer o mesmo ano após ano, o dinheiro vai crescer de forma exponencial com o tempo. Esta fórmula também se aplica à vida e é uma metáfora para o nosso crescimento.

Um bebé precisa de nove meses para nascer. Depois de um ano, aprende a andar. É preciso saber andar para aprender a correr – e a criança quando aprende a correr não deixa de saber andar. Quando aprende a falar, passa a poder comunicar e a aprender outras coisas. Nós entramos na escola mal sabendo andar e saímos vinte anos depois, uma espécie de adultos. O saber vai-se acumulando de forma exponencial, com o tempo.

Mas quando somos miúdos, mal podemos esperar para ser adultos. Queremos parecer mais velhos, começamos a beber, a fumar, queremos ser independentes. Como quem aposta no mercado financeiro à procura de ganhos a curto prazo, muitas vezes a coisa corre mal.

Crescer leva tempo e é preciso saber esperar.

As novas gerações vivem num mundo acelerado em que há poucas oportunidades para treinar a paciência. Quando eu era miúdo, e chegava o Verão, ia para o café ou para a praia e os amigos iam aparecendo. Não havia telemóveis nem redes sociais para nos distrair enquanto esperávamos, não havia whatsapp para avisar que alguém estava atrasado.

Hoje os miúdos refilam se o uber demora mais cinco minutos a chegar; e estranham se alguém está offline ou se demora algumas horas a responder a uma mensagem.

Nós não tivemos outra opção que não fosse aprender a esperar. Esperávamos pelos amigos, esperávamos pelo início das aulas, esperávamos pelo Natal. E isso não era mau, pelo contrário, vivíamos o momento por antecipação. Como diria o Principezinho, esperar é um ritual em que preparamos o coração para o que aí vem.

Uma carreira de sucesso também leva tempo. No mercado imobiliário, não posso querer especializar-me numa zona em seis dias, nem em seis meses, e às vezes nem em seis anos. Mas um agente imobiliário com vinte anos de experiência já vendeu muitas casas, já angariou muitas casas, já passou por muitas experiências, boas e más. Um agente com vinte anos de experiência já teve tempo para aprender, para ganhar credibilidade – é alguém a quem eu facilmente entrego a minha casa.

Olho para os agentes que conheço que têm vinte, trinta anos de carreira, e todos têm excelentes resultados. Vários têm equipas, assistentes e faturam cinco milhões de euros por ano.

Uma carreira de sucesso é possível se estivermos dispostos a pagar o preço: as horas, os dias, os meses, os anos que passamos a aprender e a ganhar experiência. O tempo é o elemento essencial na fórmula do crescimento, e o tempo é nosso aliado se soubermos esperar.

Como uma árvore que demora dezenas de anos a crescer, uma carreira sólida, com boas raízes, precisa de tempo para dar bons frutos – não dá para atalhar caminho.

Se todos os anos crescermos um bocadinho, no final do ano ficamos maiores; e no ano seguinte é mais fácil crescer, porque a experiência e o conhecimento são facilitadores de mais experiência e conhecimento.

Nós conhecemos a fórmula, do mesmo modo que sabemos que um bebé cresce para ser criança e que um adolescente se torna adulto; mas às vezes achamos que ela deixa de se aplicar quando somos adultos e perdemos a vontade de crescer.

Mas num mundo que está sempre a mudar, temos de nos adaptar continuamente às mudanças. Se tivermos a humildade de ir sempre aprendendo, ficamos mais flexíveis e vamos acumulando competências, vamos ficando maiores.

As pessoas que cultivam a humildade e a paciência, as pessoas que depois de vinte anos de carreira continuam a querer aprender coisas novas, a procurar novos desafios, são pessoas mais resilientes, mais produtivas, mais satisfeitas, e que sabem envelhecer: são pessoas mais felizes.