Eu também. Medo de quê?
Eu não gosto de viajar de avião. É um medo irracional: se olhar para as estatísticas, devia ter mais medo de andar de carro, mas isso não acontece. Há viagens que eu podia ter feito e que não fiz. Apesar disso, sempre que senti que perdia mais do que ganhava, encontrei estratégias para conseguir voar.
Eu não gosto de alturas, mas decidi ir fazer arborismo com o meu filho Vasco. Lá em cima, o medo foi mais forte. Tive que pedir ajuda para descer.
Nos lives que tenho feito neste tempo de pandemia, fico nervoso e já cheguei a correr com toda a gente de casa para me poder concentrar.
Foi o medo de morrer que me fez deixar de fumar.
Os medos não são todos iguais. Há medos que nos bloqueiam e medos que nos fazem avançar. A diferença está na dose. O medo é como o café. Na dose certa dá-nos energia, mas em excesso pode trazer complicações.
Online ou offline, de cada vez que vou dar uma formação ou uma palestra, tenho sempre receio de que qualquer coisa corra mal. Este receio vem com um sentido de responsabilidade, de querer servir da melhor forma a pessoa que está do outro lado. Testo os equipamentos, a internet, peço ajuda para perceber como funcionam as aplicações.
Na dose certa, o medo de que as coisas corram mal faz com que elas corram melhor: antecipas as possíveis falhas e consegues preparar-te. O medo pode ajudar a focar e a manter a atenção.
Mais, o medo é uma pista, um alerta para alguma área da tua vida em que ainda podes crescer. O medo, na dose certa, empurra-nos suavemente para fora da nossa zona de conforto.
Se eu nunca tivesse conseguido voar, a minha vida seria mais pequena, não teria conhecido as pessoas maravilhosas que conheci, não aprendido tudo o que aprendi. Se eu não tivesse arriscado subir às árvores, o meu filho não teria tido aquela oportunidade de conhecer esse meu lado, de saber que o pai também tem medo.
Mas se a dose é maior do que conseguimos aguentar, somos atirados para a zona de pânico, onde já não conseguimos pensar e bloqueamos.
Como é que sabes qual é a dose certa? Tu sabes. O teu corpo sabe.
Quando percebes que essa sensação no fundo da tua barriga é medo, podes explorar onde é que esse medo te pode levar. Se te leva ao encontro dos teus objectivos, procuras uma estratégia para o ultrapassar. Podes perguntar-te o que farias se não tivesses medo. Pedir ajuda. Dar passos pequenos até conseguir dar passos maiores. Deixar que a tua intenção te guie e te dê motivação para continuar.
Se o medo te atira para a zona de pânico, lembra-te que podes sempre descer da árvore e aceitar que ainda não é o momento de o enfrentar.
O medo é uma construção na nossa cabeça. É uma emoção que se sobrepõe à realidade e que tem o poder que nós lhe dermos. Na dose certa, o medo tem a capacidade de nos pôr em acção, de nos fazer crescer para fora da nossa zona de conforto – de nos fazer maiores.