A minha avó, Maria Luísa, é a memória da minha infância, da minha adolescência, dos natais, dos aniversários, das férias de Verão. Era a matriarca da família, a cola que nos unia. Associo-a às memórias boas, de reconciliação, de afetividade – era à volta dela que nos reuníamos.
Ao longo dos anos sempre houve encontros e desencontros na família, casamentos, divórcios, separações, e nos conflitos a minha avó tinha sempre a palavra certa, a palavra de mediação.
Nesses momentos a minha avó tinha a capacidade de relativizar os melodramas, de não valorizar aquilo que não era importante e de desculpar – de encontrar sempre uma perspetiva positiva.
Há uma frase que ela costumava dizer e que nunca vou esquecer: viver é fácil, difícil é saber viver.
A minha avó era o porto seguro de toda a família e teve um impacto enorme em todos nós, o seu exemplo moldou as nossas vidas. Viveu uma vida dedicada à família, dedicada ao marido, aos filhos, aos netos, aos bisnetos. Viveu uma vida a servir.
É muito bonito quando nós dedicamos uma vida a servir, seja numa família ou numa empresa. A grandeza de servir o outro não se mede em números: não importa se serves uma pessoa, a tua mulher ou o teu marido, ou se serves mil. Não é melhor, nem pior, a beleza de servir é a mesma.
Falamos muito de ter um propósito, de definir objetivos e muitas vezes estamos fixados numa ideia de sucesso material. Peixoto Accyoli disse: «Chegar lá não significa necessariamente ter dinheiro, poder, sucesso ou qualquer bem material. Significa, sim, conquistar algo que tenha significado para ti e que te deixe totalmente realizado». A minha avó foi para mim uma prova viva que o sucesso não tem necessariamente a ver com dinheiro – e foi ela que inspirou o meu propósito de servir os outros.
Com a minha avó aprendi que podemos ser os melhores naquilo que fazemos, mas se não nos focarmos no que é importante, se não encontrarmos formas de pôr as nossas qualidades ao serviço dos outros, não vamos experienciar verdadeiramente o que é ser parte de uma comunidade, de uma família, não vamos conseguir tocar as vidas dos outros.
A minha avó foi a minha referência na infância e na adolescência e ainda é um exemplo espetacular na minha vida de adulto. Com ela aprendia a ser um bocadinho mais moderado, um bocadinho mais tolerante. Com ela aprendi que uma vida boa, em harmonia, requer esforço, amor e segurança. Com ela aprendi a saber viver.