O meu filho Vasco voltou às corridas de motocross depois da paragem por conta da pandemia. Fiquei com o coração nas mãos ao vê-lo acelerar, dar saltos e cair. Foi uma experiência intensa que me fez pensar: a vida é como uma corrida de motocross.
Viver o sonho, apesar do medo
Eu sei que o motocross é um sonho do meu filho e por isso eu estou lá a apoiá-lo e a incentivá-lo, mas custa-me imenso. Como pai, o meu primeiro instinto é o de proteção e tenho medo que ele se aleije.
Quando vais à procura de um sonho, quando queres evoluir, crescer, muitas vezes as pessoas mais próximas de ti vão ter medo que te magoes, vão ter receio que caias e não te consigas levantar, e por isso podem impedir que avances ou afastar-te dos teus sonhos. Então faz a tua própria avaliação e não deixes que o medo dos outros contamine o teu sonho.
Se o meu filho tem a coragem de estar ali, eu também posso ter.
Cair e levantar
O meu filho caiu oito vezes naquela corrida. A maior parte das vezes foi porque as botas se rasgaram e impediram que ele travasse, ficando presas na areia e na lama. Ficou em oitavo lugar – a interrupção nos treinos leva tempo a recuperar – e o motocross implica muito treino, exige muita preparação física, foco e técnica.
As pistas têm rampas que lançam as motos bem alto, e onde é perigoso perder o equilíbrio. Para eles se lançarem e voarem bem alto também têm de saber fazer a descida em segurança. É preciso saberem dar mais uma volta, repetir o salto, voltar a tentar.
No motocross e na vida todos caem, todos caímos, e o segredo está na velocidade com que nos voltamos a levantar, voltamos a correr, a ir atrás dos nossos objetivos. Se mantivermos o movimento em direção à nossa meta, como na dança da chuva, a própria ação vai alimentar o ciclo do sucesso.
Crescer com raízes fortes
O Vasco está há vários anos a treinar com o mesmo professor – o Pedro Barradas da escola Off Road Camp Yamaha. Há muitas marcas de motos e muitas equipas, mas o tempo passado a trabalhar com aquela equipa fez com que ele passasse a fazer parte daquele ambiente bom, de aprendizagem, de diversão e também de competição.
Numa equipa aprendemos a competição e a entreajuda. Recordo-me do Paulo Gonçalves, que é lembrado por um momento inspirador num Paris Dakar: perdeu a possibilidade de ficar em primeiro lugar porque parou para dar assistência ao seu adversário, um dos favoritos à vitória, e que teve uma queda feia à sua frente.
No motocross, como na vida, não é boa ideia andar a saltar de equipa em equipa. Para crescer profissionalmente é importante haver consistência e estabilidade: é preciso criar raízes.
Naquele domingo o Vasco fez uma corrida espetacular, apesar do pó, da chuva, das botas, da falta de treino, apesar da pista difícil, de areia. Outras corridas, em outras pistas, têm outras dificuldades, outros obstáculos. Há pistas com pedras, outras com lama. Como na vida, cada momento traz adversidades próprias.
O trabalho de motocross é um conjunto de variáveis, tal como o nosso negócio de imobiliária. Para vencer é preciso ter um bom professor, fazer parte de uma boa equipa, ter o foco no objetivo, e treinar todos os dias. Para crescer é preciso ter coragem para continuar, apesar do medo, e força para nos levantarmos depois de cada queda.